A suspensão dos reajustes de energia das concessionárias neste ano poderia tirar quase um ponto percentual da inflação de 2022, estimam economistas. A conta, porém, não apenas seria empurrada para 2023, como viria ainda maior, criando dificuldade adicional à tarefa do Banco Central de trazer a inflação para a meta no ano que vem. Além disso, a perspectiva de novas altas em combustíveis, que podem esvaziar parte do alívio em energia, tem feito algumas projeções para preços administrados subirem. A cinco meses das eleições, nas quais o presidente Jair Bolsonaro (PL) buscará um segundo mandato, a Câmara dos Deputados – comandada por Arthur Lira (PP-AL) aliado do presidente – aprovou, nesta semana, urgência para votar um projeto que suspende o reajuste de quase 25% nos preços da energia no Ceará. Se o texto for aprovado assim, o J.P. Morgan estima que o impacto sobre o IPCA de 2022 seria muito pequeno, de 0,04 ponto percentual. Mas o receio no mercado e no setor é que a medida seja ampliada a nível nacional, desejo que Lira chegou a manifestar. Inflação é um calcanhar de aquiles de Bolsonaro e de sua tentativa de reeleição. E os reajustes das tarifas seriam um desgaste adicional para sua imagem. Economistas e empresas do setor elétrico foram unânimes ao falar dos danos de uma mudança de regra como sugeriu Lira. “Se todos os reajustes fossem cancelados e as altas futuras fossem suspensas, o impacto potencial poderia ser de uma redução na projeção do IPCA deste ano em cerca de 85 pontos-base [0,85 ponto percentual]”, estimam os economistas do banco Vinicius Moreira e Cassiana Fernandez em relatório. Eles projetam 8% de IPCA em 2022. “A adoção de tal medida não está em nosso cenário básico, mas é um risco que merece ser monitorado.” (Valor Econômico – 06.05.2022)