No oitavo andar do Ministério de Minas e Energia (MME), o ar-condicionado está desligado e várias luzes estão apagadas. É o retrato de uma crise que se desenha desde o ano passado e que faz com que o ministro Bento Albuquerque precise responder diariamente a pergunta: vinte anos depois, o Brasil voltará a enfrentar racionamento de energia? A resposta de “hoje” é não, mas com a ressalva de que “o monitoramento é permanente”. Albuquerque diz que o presidente Jair Bolsonaro foi informado do risco de crise hídrica desde outubro do ano passado, quando fez uma apresentação em Power Point junto com o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), André Pepitone, e com Rodrigo Limp, ex-secretário de Energia do MME e atual presidente da Eletrobras. Segundo o ministro, partiu do presidente a sugestão de criar uma campanha para incentivar a redução do consumo. A previsão é gastar R$ 120 milhões em comerciais na televisão, rádio e internet.Para Albuquerque, a crise hídrica não vai ter um ponto final em 2021. O nível dos reservatórios baixará ainda mais até dezembro, quando começa o período úmido, que segue até abril. “Evidentemente, nós não estamos preocupados só com 2021. Mas também com 2022, 2023, 2024. Porque os nossos reservatórios estão em níveis baixos e ficarão ainda mais baixos até o fim do ano. As coisas não vão se resolver em dezembro, muito menos em abril de 2022”, afirmou o mesmo. (O Globo – 06.09.2021)
IECC: nº 150 - 14 de setembro de 2021
Editor: Prof. Nivalde J. de Castro
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Índice
1 Marco Institucional
1.2 MME/Vieira: Governo avalia medidas para evitar crise energética em 2022
O secretário de Energia Elétrica do Ministério de Minas e Energia (MME), Christiano Vieira, disse que o governo já tem avaliado o cenário da crise energética para 2022 e adotado medidas para o enfrentamento do problema. Segundo ele, que participou do programa "A Voz do Brasil", mesmo que as chuvas a partir de novembro sejam acima da média, a tendência é que os reservatórios não se recuperem totalmente, e uma das medidas que o governo vai adotar é a contratação de energia adicional em processo simplificado. Vieira disse também que a Bandeira Escassez Hídrica, com adicional de R$ 14,20 para cada 100 kWh consumidos, deve vigorar até o final do período úmido, em abril, para custear o valor da energia mais cara. "Em função da escassez, foi criada essa bandeira para garantir oferta para garantir confiabilidade e segurança. Ela vigora até abril de 2022, até o final da próxima época chuvosa", afirmou. O secretário do MME disse também que hoje os reservatórios das hidrelétricas que atendem ao Sistema Interligado Nacional (SIN) estão com aproximadamente 28% de sua capacidade. "Se pensarmos em uma caixa d'água, ela está 70% vazia, e temos mais dois meses pela frente". (Broadcast Energia – 09.09.2021)
1.3 Governo libera contratação de usinas térmicas e energia de forma simplificada
Diante da pior crise hídrica já registrada no País e escassez nos principais reservatórios, o governo deu aval para a contratação simplificada de energia e de reserva de capacidade para enfrentar a crise. A decisão considera resultados de estudos sobre as condições de fornecimento de energia elétrica nos próximos anos e é vista como necessária para garantir o suprimento. De acordo com dados, não há perspectiva de chuvas relevantes nos próximos meses. A recomendação foi feita pelo Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) em reunião na última sexta-feira, 3, e referendada pela Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (Creg) nesta quinta-feira, 9. O colegiado, criado pela Medida Provisória 1.055/2021, é presidida pelo ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e composta por outros ministros de Jair Bolsonaro. A decisão prevê a contratação de empreendimentos nos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Sul, que devem entrar em operação já em 2022 até 2025. As regiões são as mais atingidas pela seca neste momento. De acordo com os dados apresentados na última semana em reunião do CMSE, a previsão é que os reservatórios no Sudeste/Centro-Oeste e Sul registrem apenas 15,2% e 22,6%, respectivamente, de suas capacidades de armazenamento no fim de setembro. Além disso, a Creg homologou condições para a operação da usina termelétrica GNA I, no Porto de Açu, em 2021 e 2022. A ação faz parte do esforço para viabilizar todos os recursos energéticos disponíveis. (O Estado de São Paulo – 09.09.2021)
1.4 Consumidor que mudou de residência ou gera própria energia não ganhará bônus na conta de luz
Aposta do governo federal para amenizar os impactos da crise hídrica, o programa que prevê descontos nas contas de luz para consumidores que economizarem energia nos próximos meses não irá beneficiar a todos. Pelas regras estabelecidas pelo MME, consumidores que não moram na mesma residência desde setembro do ano passado ou produzem a própria energia, a chamada geração distribuída, não terão direito a nenhum tipo de bônus, mesmo se reduzirem o consumo neste ano. A medida é voltada aos consumidores atendidos pelas distribuidoras, seja residencial, comercial ou industrial, que conseguirem reduzir de 10% a 20% o consumo. Porém, é necessário ter o histórico de consumos medidos nos quatro meses, setembro a dezembro, de 2020. Isso porque a comprovação da economia será feita com base no somatório do consumo ao longo dos próximos quatro meses, ou seja, setembro a dezembro de 2021, para comparar com a soma das mesmas quatro faturas de 2020. O bônus, no entanto, só será pago, de uma vez, em janeiro de 2022. (Broadcast Energia – 09.09.2021)
2 Oferta e Demanda de Energia Elétrica
2.1 EPE: consumo de eletricidade cresce 12,8% no 2º trimestre
A EPE publicou um boletim segundo o qual no segundo trimestre deste ano foi registrado um aumento de 12,8% no consumo de eletricidade no país, em comparação com o mesmo período de 2020. O alto índice de expansão se deve à base baixa de comparação, já que os meses de abril a junho de 2020 foram os mais afetados pela pandemia de Covid-19. Segundo o relatório, o setor industrial foi o que mais apresentou crescimento na demanda de energia, com alta de 22,3%, seguido da classe comercial, com 15,9%. Já o consumo residencial cresceu 4,8% no período. Todas as regiões tiveram registraram taxas positivas no trimestre, com destaque para o Nordeste com incremento de 20,8%, seguido do Norte com 20,4%. O subsistema Sul teve alta de 15,6%, o Sudeste de 14,8% e o Centro-Oeste de 13,8%. (Brasil Energia – 09.09.2021)
2.2 Consumo de energia segue crescendo em ritmo estável, aponta CCEE
Dados preliminares do Boletim InfoMercado Quinzenal da CCEE apontam consumo de 62.706 megawatts médios no SIN em agosto, crescimento de 3,4% se comparado com mesmo período 2020 e de 4,4% frente ao mesmo mês de 2019. A avaliação da CCEE é de que a demanda por eletricidade segue em linha com o esperado, com alta menos acentuada do que as registradas no primeiro semestre deste ano. No ACL, em que a grande indústria e as empresas de maior porte compram energia, o consumo foi de 22.139 MW médios, montante 10,1% superior a 2020. Se excluirmos as cargas que entraram para o segmento nos últimos 12 meses, o avanço seria de 5,2%. Já o ACR, no qual estão os comércios menores, as pequenas e médias empresas e os consumidores residenciais, a demanda se manteve estável. Se desconsiderássemos o efeito da migração de cargas no último ano, haveria alta de 2,3% na comparação com 2020. (CCEE – 09.09.2021)
2.3 Usinas solares chegam a 2,1% da matriz elétrica
O mês de agosto teve um pico de usinas geradoras liberadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica – Aneel para operação comercial, com acréscimo de 795,98 megawatts (MW) de potência instalada. Trata-se do maior quantitativo em 2021, até o momento, um pico de entrada em geração que não se via desde o início da operação da usina termelétrica Porto de Sergipe I, em Barra dos Coqueiros/SE, com capacidade de geração de 1.551 MW, em março de 2020 (naquele mês, a expansão na matriz energética foi de 1.605,93 MW). Desses quase 800 MW de potência acrescida em agosto, cerca de 80% foram provenientes de fontes eólica, hídrica e solar, e 282,635 MW se referem a usinas eólicas entregues antes do estabelecido no cronograma da outorga. Com as liberações desse mês, as usinas solares fotovoltaicas alcançaram a marca de 2,10% do total da capacidade de operação, com 3.730 MW confirmados pela fiscalização da Aneel. Com esse salto, o Brasil chegou em 31/08 a uma expansão de 3.081,51 MW no ano, sendo 2016,01 MW (65%) provenientes de fonte eólica, 560,44 MW (18%) de usinas termelétricas, 419,33 MW (14%) de usinas solares fotovoltaicas e 85,73 MW (3%) de fonte hidráulica (pequenas centrais hidrelétricas e centrais geradoras hidrelétricas). Do montante de potência instalada que entrou em operação comercial em agosto, cerca de 60% não estão relacionados a contratos de comercialização regulada (ACR). (Aneel – 06.09.2021)
3 Inovação
3.1 EPE diz que o Brasil já prepara ações estruturantes para desenvolver um setor pujante de hidrogênio
O Ministério de Minas e Energia apresentou recentemente as diretrizes para o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2), cujo objetivo é definir políticas públicas e tecnologias desse setor no país. A EPE, como se sabe, é um dos agentes centrais do governo no desenvolvimento do PNH2. Ao Petronotícias, o Diretor de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais da empresa, Giovani Machado, ressalta que o Brasil não está apenas interessado no hidrogênio verde, mas também em outras potenciais rotas tecnológicas. Giovani fala que recentemente, foi publicado o Plano Nacional de Energia (PNE 2050), no qual a EPE revisitou o hidrogênio como uma tecnologia disruptiva. Apontando um conjunto de desafios que precisam ser enfrentados para o desenvolvimento dessa tecnologia. Já o PNH2 reflete os conjuntos de experiências e a identificação de eixos que precisam ser acelerados e aperfeiçoados, visando a construção de uma base necessária para o desenvolvimento de uma economia do hidrogênio. O diretor conclui: "O Brasil já tem um conjunto de elementos que o qualificam para o desenvolvimento de uma economia de hidrogênio pujante. Algumas pessoas olham para outros países que estão acelerando a estruturação de projetos e acreditam que essas nações estão à frente do Brasil. Mas, na verdade, nosso país está fazendo uma estruturação sólida para ser um grande player na economia do hidrogênio”. (Petronotícias– 10.09.2021)
4 Biblioteca Virtual
4.1 Artigo GESEL: “O papel estratégico do hidrogênio verde na transição energética global”
Em artigo publicado no Broadcast Energia, Nivalde de Castro, professor do Instituto de Economia da UFRJ e coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (GESEL-UFRJ), trata do hidrogênio como vetor necessário para que os países sejam capazes de atingir as metas de neutralidade do carbono no entorno de 2050. Segundo o autor, “a solução para a União Europeia, e para a maioria dos países desenvolvidos, é o hidrogênio verde, com o detalhe de que o insumo deverá ser importado”, acrescentando que “pelo lado da oferta, qualquer país que possuir potencial de recursos renováveis (eólico, solar, biomassa, hidroelétrico, etc.) poderá estruturar uma cadeia produtiva para produção de hidrogênio, tanto, prioritariamente, para exportação, como para uso interno deste recurso com o objetivo de converter a sua matriz de consumo de energia.” Ele conclui que “no cenário dos potenciais países produtores de hidrogênio verde, o Brasil apresenta condições muito consistentes e promissoras de se tornar um dos principais players para a formação do mercado mundial desta nova commodity”. Para ler o texto na íntegra, clique aqui. (GESEL-IE-UFRJ – 08.09.2021)
4.2 Artigo GESEL: “Posicionamento estratégico em um futuro elétrico”
Em artigo publicado na Agência CanalEnergia, André Alves (pesquisador pleno do GESEL) e Mauricio Moszkowicz (pesquisador sênior do GESEL) analisaram o processo de expansão da mobilidade elétrica e o impacto dessa difusão de VEs no setor elétrico, destacando o surgimento de novas oportunidades para as empresas do setor. Os autores afirmam que “a difusão da mobilidade elétrica traz uma série de oportunidades para as empresas do setor elétrico, dentre as quais diversas já planejam atuar como grandes investidoras neste novo segmento.” Desse modo, os autores ainda apontam que “a difusão dos veículos elétricos irá propiciar a criação de um amplo leque de novos negócios para o segmento de distribuição de energia elétrica. Em função do monopólio natural e das informações que detêm, as distribuidoras ocupam uma posição estratégica para liderar o segmento de prestação de serviços de recarga de veículos elétricos.” Por fim, os pesquisadores concluem que “a inserção do setor elétrico no ecossistema da mobilidade elétrica propiciará o alcance de uma posição de liderança em um futuro em que a frota elétrica será predominante no país.” Para ler o texto na íntegra, clique aqui. (GESEL-IE-UFRJ – 08.09.2021)
4.3 Artigo de Jerson Kelman sobre o planejamento e operação de reservatórios
Em artigo publicado na Editora Brasil Energia, Jerson Kelman, que foi um dos principais dirigentes da ANA, Aneel, Light e Sabesp, trata da operação eficiente de reservatórios. Segundo o autor, “em recente artigo (Uso múltiplo dos rios e suas consequências), afirmei que as restrições hidráulicas para a operação de reservatórios (...) “vêm sendo acatadas em geral com pouca discussão, possivelmente devido ao efeito ‘carona` do MRE sobre os agentes de geração hidroelétrica. Raramente se avalia as consequências econômicas e, principalmente, se seria ou não possível realizar intervenções para atenuá-las”. Fechei o artigo com perguntas, que responderei no presente artigo. A primeira foi: “Quais são as restrições operativas que podem ser resolvidas a baixo custo, resultando em significativo aumento de eficiência na produção de energia elétrica?”. (...)A segunda pergunta formulada no mencionado artigo foi: “Qual arranjo legal e regulatório seria capaz de induzir os agentes de geração a tomar partido dessas oportunidades?””. Ele conclui que “as restrições operativas que não puderem ser suprimidas ou abrandadas, quaisquer que sejam as razões, devem ser definitivamente incorporadas nos modelos matemáticos do setor.” Para ler o texto na íntegra, clique aqui. (GESEL-IE-UFRJ –08.09.2021)
4.4 Artigo de Abel Holtz sobre a crise hídrica e a construção de novas usinas
Em artigo publicado na Agência Canal Energia, Abel Holtz, diretor da Abel Holtz e Associados, trata da construção de novas usinas e a diversificação da matriz energética atual. Segundo o autor, “enquanto as atenções estão voltadas para a crise hídrica com desenhos de “apagões” localizados a finalização e construção de nucleares ao lado da consolidação do tratado de Itaipu, construção de binacionais com a Bolívia e Argentina, estão na penumbra”. Ele conclui que “não será mais possível passada a crise, ou não, deixar de considerar a construção de novas hidrelétricas e nucleares”. Para ler o texto na íntegra, clique aqui. (GESEL-IE-UFRJ – 09.09.2021)
4.5 Artigo de Cleveland M. Jones sobre as causas da crise hídrica e as formas de mitigá-la
Em artigo publicado na Editora Brasil Energia, Cleveland M. Jones, geólogo, trata da crise energética e as inovações capazes de solucioná-la. Segundo o autor, “uma combinação de falta de planejamento, erros políticos, erros técnicos e condições climáticas extremamente desfavoráveis precipitaram a crise energética no Brasil em 2021, que ainda está em andamento, e provavelmente será tão ruim ou até pior do que a crise de 2001, que deixou graves danos econômicos e políticos em sua esteira.” Ele conclui que “o Brasil apresenta um ambiente atrativo para inovações que possam ajudar a mitigar ou reduzir os efeitos da atual crise energética. Propostas que favoreçam a garantia de um fornecimento de energia maior e mais confiável, ambientalmente mais saudável, e com menores custos, serão cada vez mais bem-vindas”. Para ler o texto na íntegra, clique aqui. (GESEL-IE-UFRJ – 09.09.2021)
Equipe de Pesquisa UFRJ
Editor: Prof. Nivalde J. de Castro (nivalde@ufrj.br)
Pesquisadores: Diogo Salles, Fabiano Lacombe e Rubens Rosental.
Assistentes de pesquisa: Sérgio Silva.
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