A tarifa de Itaipu vai ser revista, e para cima, avisa o novo diretor-geral de Itaipu, Enio Verri. O valor de US$ 16,19/Kw (R$ 85,62 por kilowatt) está em vigor desde 1º de janeiro no Brasil, mas foi fixado unilateralmente pela gestão bolsonarista, sem consultar o sócio paraguaio. A tarifa acertada entre os dois países no ano passado foi de US$ 20,75/kW (R$ 109,73). Quando o valor foi anunciado, como uma herança positiva do governo passado, especialistas da área de energia já alertavam que o novo governo teria o ônus político de aumentar a tarifa. "A grande questão é que dificilmente o Paraguai vai concordar em baixar para US$ 16. O valor está diretamente relacionado à receita do país, e eles estão em processo eleitoral, a conjuntura não é a melhor para isso", disse Verri em entrevista à Folha. Verri tomou posse na quinta-feira (16), numa cerimônia prestigiada por técnicos do setor, políticos e representantes dos governos dos dois lados da fronteira, incluindo os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Mário Abdo Benítez. Verri reforçou que o conselho de Itaipu será formado por maioria de ministros, conforme noticiado pela Folha. Segundo ele, na terça-feira, quase todos os nomes foram confirmados numa reunião com o presidente Lula e os ministros Alexandre Padilha, Rui Costa e Alexandre Silveira. A partir deste ano, os representantes de Brasil e Paraguai em Itaipu terão a missão de participar da renegociação do chamado Anexo C do tratado bilateral, que rege a estrutura financeira da empresa e de comercialização da energia da usina. As tratativas devem começar após a posse do novo presidente do Paraguai, que ocorre em agosto. Um dos temas que será discutido na renegociação é se haverá alteração na forma de calcular a tarifa da hidrelétrica. Hoje a usina não dá lucro e o valor que vai para conta de luz deve apenas cobrir as despesas da binacional. O novo diretor-geral avisa que pretende rever a gestão da chamada missão socioambiental de Itaipu. "Vamos retomar a missão de Itaipu, então, vai ocorrer uma reconfiguração nos investimentos, onde vamos retomar a agricultura familiar, o trabalho com os pescadores, a política regional de crescimento, sempre casada com os programas de governo do presidente Lula, que foi eleito com a proposta de promover políticas sociais", afirmou. "Isso não quer dizer que não vamos fazer mais obras, mas que as prioridades são projetos ambientais e sociais." Uma das metas, destaca Verri, é retomar as obras da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), em Foz do Iguaçu, que estão suspensas. Verri adianta que considera "pouco provável" atender um dos pleitos do setor elétrico brasileiro: tentar liberar a energia da binacional no mercado livre durante a revisão do Anexo C. "Itaipu produz 8,5% da energia elétrica do Brasil e serve de ponto de equilíbrio", diz ele. "O mercado livre oscila, e oscila muito. Agora, o preço está lá embaixo, porque temos abundância de chuva, mas quando chegar uma seca, como tivemos em 2021, ele vai lá para cima." Verri explica ainda que Itaipu precisa continuar atuando como "bombeiro" do sistema elétrico nacional. (Folha de São Paulo - 16.03.2023)